ARTIGO – ‘Entre o céu e a saudade, é novembro…’. Confira as reflexões do teólogo William Tavares
Pastoralista do Vieira assina dois artigos que ressaltam que "a vida é breve, mas o amor é eterno".
Neste início de novembro, que já começa com o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados, o teólogo e poeta William Tavares assina dois artigos que abordam a importância da espiritualidade em tempos de saudade dos entes queridos, sempre recordados com tanto carinho. Uma saudade que também inspira aprendizagens, como revela William, que integra a equipe de pastoralistas do Colégio Antônio Vieira. Confira os textos!
ENTRE O CÉU E A SAUDADE, É NOVEMBRO…

Por William Tavares, teólogo, poeta e pastoralista no Colégio Antônio Vieira
Outubro se despede e novembro chega de mansinho, trazendo um vento diferente, desses que levantam folhas secas e memórias antigas. No calendário, dois dias se abraçam: o de Todos os Santos e o de Finados. Um celebra a santidade anônima dos que viveram o amor em gestos simples; o outro, a saudade dos que partiram antes de nós. E eu fico pensando: será que há tanta distância assim entre um e outro? Talvez a santidade seja justamente a arte de deixar saudade boa, daquelas que não pesam, mas iluminam.
Lembro dos meus mortos como quem folheia um álbum de esperança. Alguns me ensinaram a rezar, outros me ensinaram a rir, e os mais sábios me ensinaram a continuar. Cada um deixou uma fagulha acesa no meu caminho. E é curioso: quando penso neles, não sinto ausência, sinto presença. É como se o amor, uma vez plantado, nunca deixasse de florescer, só muda de estação. A morte, talvez, seja apenas a passagem da nossa voz para o silêncio de Deus.
Mas há algo que sempre me inquieta nesse tempo: por que esperamos novembro para pensar na eternidade? Por que só levamos flores a quem já não pode cheirá-las? Talvez devêssemos celebrar a vida com mais ternura e menos distração. Fazer da convivência uma missa diária, e das relações, um altar sem mármore, só afeto e verdade. A santidade, penso, não mora nos altares dourados, mas nas mãos que consolam, no perdão que se oferece, na paz que se constrói.
Então, neste novembro que começa, rezo com gratidão pelos que foram, e com cuidado pelos que ficam. E, no fundo, percebo que o céu não está longe, ele começa dentro da gente, quando transformamos saudade em gratidão, e lembrança em compromisso de amor. Talvez seja isso que os santos e os finados, cada um à sua maneira, tentam nos dizer: que a vida é breve, mas o amor é eterno.
Que este tempo de memória e ternura nos encontre de coração aberto para acolher o mistério da vida e a leveza da eternidade. Que possamos caminhar entre túmulos e flores não com tristeza, mas com reverência. Porque quem amou, nunca partiu por inteiro. Há sempre um pedaço de céu soprando dentro de nós, lembrando que a morte é só o intervalo entre dois respiros de Deus.

SOMOS SAUDADE
Por William Tavares
A saudade tem o peso de um suspiro profundo. É aquele instante em que o coração para por um segundo, entre o agora e o que já foi, entre o aqui e o lugar onde a gente gostaria de estar. Saudade é sentir o cheiro de um café, que traz a lembrança de uma manhã passada ao lado de alguém que agora só existe na memória.
Curioso como ela aparece de mansinho, às vezes sem aviso. Pode estar escondida em um canto da música que toca na rádio ou na página de um livro que, de repente, nos transporta para outro tempo. É um bilhete guardado, uma fotografia amarelada, a mensagem que nunca apagamos do celular. A saudade se infiltra em detalhes pequenos, mas tem uma força imensa.
Ela não machuca só pela ausência física. A saudade é também sobre o que poderíamos ter dito e não dissemos, sobre aquele “até logo” que acabou virando “adeus” sem a gente perceber. Saudade é cheia de pequenas renúncias e grandes ausências. Saudade é dor em cicatriz, é flor que jaz semente, é lagrima em sorriso tímido, é barulho silenciado…
Mas há beleza na saudade. Ela nos lembra de que algo, ou alguém, foi importante. A saudade nos faz revisitar sentimentos, reviver momentos e, de certa forma, manter vivos os afetos que construímos. E é esse balanço entre o amargo da distância e o doce da lembrança que faz a saudade ser tão única.
Quem sente saudade carrega dentro de si um pedaço de história, de vida compartilhada. E assim vamos vivendo entre o passado que não volta e o presente que ainda espera, sabendo que a saudade nunca nos abandona por completo. Ela é nossa companheira silenciosa, nos ensinando, todo dia, a importância do que já tivemos.
Saudade é o espaço entre os abraços, os dados e os previstos, os realizados e os imaginários. Saudade do que foi e do que poderia ter sido. Mas não tem volta, saudade é curtir, chorar, sorrir, mas sem voltar, pois, o tempo passou e nos deixou o melhor, é só acessar, saudade que nos mantém nos projetos futuros, de olhos brilhantes para o horizonte garantem a potencia do que somos… Somos saudade…
Imagens: Freepik e Secom/CAV
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