27.02.23

‘Vieira educa com qualidade acadêmica e humana, sendo um dos destaques da Companhia de Jesus’, diz Superior do Núcleo Apostólico Jesuíta

Padre Jean Fábio Santana, SJ, ressaltou importância da missão educativa e da integração das obras jesuítas no estado, em entrevista exclusiva

‘Vieira educa com qualidade acadêmica e humana, sendo um dos destaques da Companhia de Jesus’, diz Superior do Núcleo Apostólico Jesuíta

Há pouco mais de dois meses à frente do Núcleo Apostólico da Companhia de Jesus na Bahia, o padre Jean Fábio Santana, SJ, diz estar especialmente feliz com a nova missão que lhe foi confiada pela Ordem, sobretudo, por voltar à Bahia. Integrante de família de Alagoinhas, a 123 quilômetros de Salvador, ele tem ótimas recordações da cidade, onde despertou para a vocação à Vida Religiosa, ingressando na Companhia de Jesus em 1998.

A missão educativa jesuíta e como o Vieira vem se destacando entre os propósitos de oferecer uma formação integral diferenciada foram alguns dos temas nesta entrevista. O padre Jean Fábio, SJ, ainda falou sobre a importância da educação no combate ao racismo e reafirmou os planos de contribuir para integrar e fortalecer cada vez mais as Obras Jesuítas no estado, onde a Companhia de Jesus se faz presente também por meio de projetos voltados para a espiritualidade e assistência social, tanto na capital quanto no interior. Confira!

Qual o papel da educação nas Obras da Companhia? Como o senhor acredita que essa missão vem sendo cumprida pelo Colégio Antônio Vieira?

O tema da educação foi sempre muito relevante para nós, jesuítas. O Papa Francisco, inclusive, está agora enfatizando ainda mais esta questão, no que diz respeito às escolas católicas. Ele está nos convidando a tomar cada vez mais consciência da importância de a gente assumir nossa identidade de escola cristã e católica. Então, acho importante, primeiramente, esse resgate e reafirmação do perfil de uma escola católica, até porque, nos tempos de hoje, para muitos, a educação virou mera mercadoria, virou comércio, com outras dimensões sobre qualidade. Mas, o cuidado da integralidade do humano não deve se perder na educação, e as escolas católicas cultivam muito isso, sendo que as escolas católicas da Companhia de Jesus ainda mais, porque estão sempre preocupadas em realmente formar crianças, adolescentes e jovens para os demais, para que sejam jovens, homens e mulheres capazes de viver uma dimensão de integralidade para que, assim, onde quer que estejam, possam atuar também em favor dos demais. No que diz respeito aos nossos colégios jesuítas e ao Colégio Antônio Vieira, tenho constatado a presença de qualidade nesse campo. Assim, o Vieira tem cumprido com a missão dele, no contexto local da Bahia. Um colégio que preza por uma tradição, que vem com a credibilidade de uma educação realmente voltada e interessada em formar homens e mulheres para os demais. Portanto, para a sociedade baiana, o colégio continua sendo uma referência na educação porque educa com a qualidade acadêmica e humana, sendo também um dos destaques entre os colégios da Companhia de Jesus. No contexto mundial da Rede, é um dos colégios que têm o maior número de alunos. Este é um elemento que ajuda a comprovar que, em sua vocação de educar, o Vieira está indo por um bom caminho, sendo sinal do cuidado de Deus através da educação escolar.

O senhor tem uma história de atuação na Companhia com ações voltadas para a juventude e a justiça social. Quais os planos para o Núcleo Apostólico da Bahia que também abarcam essas áreas?

Nessa nova etapa em minha caminhada e missão na Companhia, creio que o mais importante é colaborar para que o compromisso de evangelização, que a própria Província tem no Brasil, efetive-se, a partir de um trabalho em rede e de interação entre nossas Obras, ações e atividades nas suas diversas áreas pelo Brasil afora e, também, no nosso contexto de Bahia, onde temos paróquias, colégios, casa de formação e centros de espiritualidade. Que essas áreas de atuação da Companhia possam, cada vez mais, concretizar sua missão, animadas por uma espiritualidade de comunhão. No fazer apostólico e no realizar das ações, deve ser sempre buscado aquilo que tem interseção, fazendo uma obra fortalecer a outra, uma atividade fortalecer a outra, e que as pessoas se sintam verdadeiramente fortalecidas pela proximidade, pelo interesse comum e pela busca de unidade entre aqueles que estão no cotidiano da vida, realizando a missão da Companhia de Jesus em cada lugar concreto.

O senhor recentemente publicou um artigo falando sobre a questão do racismo, ainda lamentavelmente tão presente em nossa sociedade. O Vieira tem, inclusive, um comitê para uma educação étnico-racial que tem sido muito atuante. Como o senhor tem visto essa iniciativa por parte de um colégio jesuíta na Bahia?

A nossa sociedade brasileira é uma sociedade extremamente racista. Infelizmente, isso vem desde o princípio da história da formação do Brasil, quando era usada, forçadamente, a mão-de-obra de um povo para produzir bens para outros povos. Essa mão-de-obra não era reconhecida para também de modo a também poder usufruir daquilo que produzia. Era vista apenas como uma mão-de-obra objeto, só um instrumento de produção de recursos e de capital para uma elite exploradora. Essa população explorada e excluída, cujos valores nos aspectos econômicos, sociais e culturais, não eram reconhecidos, é a população negra e, também, a população indígena. Essa dinâmica de exploração do início da formação do povo brasileiro ainda hoje se faz presente de modo muito perverso, especialmente na vida das pessoas pobres que, em sua maioria são homens negros e mulheres negras. Creio que o Brasil precisa extirpar do seu seio social a chaga do racismo que promove relações de exploração e usurpação de direitos. Por parte do colégio, partindo do importante papel que tem a educação na formação de pessoas antirracistas, é fundamental contarmos com iniciativas que revelem o compromisso de uma escola preocupada e empenhada em enfrentar toda a dinâmica do racismo estrutural tanto no contexto da comunidade acadêmica, quanto no seu entorno social.

Qual sua mensagem para as famílias vieirenses em meio a esse mundo cheio de dificuldades, mas também ainda de muita esperança, sobretudo, diante deste compromisso da nossa comunidade por uma educação de excelência para crianças e jovens, fincada nos valores inacianos e cristãos?

Sempre que possível gosto de ressaltar o tema do reconhecimento do que é a vida. Somos convidados, primeiro, a tomar consciência de que a vida é um dom, é um presente, é uma graça doada. Ou seja, o dom da vida é um presente do próprio Deus. Então, é importante que todos nós, antes de tudo, possamos confiar e buscar essa realidade do divino. Que esta possa nos ajudar nessa dinâmica da harmonização do nosso ser, propagando essa harmonia da presença de Deus em nós. Que esse mesmo Deus fale, por meio de nós, para os outros ao nosso redor, porque Ele nos deu o dom da vida como um presente que chega às nossas mãos e que se transforma em uma tarefa que é a de vivermos a vida com sentido, para que também aqueles que compartilham a vida conosco comecem a compreender em nós uma conduta, uma esperança, um modo de proceder que nos faz inspirar outros, e que revela que entendemos a vida como um presente de Deus que precisa fazer sentido para e com os demais, revelando, assim, o nosso compromisso com o presente dado por Deus.

Foto: Secom/CAV

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência em nossos sites e fornecer funcionalidade de redes sociais. Se desejar, você pode desabilitá-los nas configurações de seu navegador. Conheça nossa Política de Privacidade.

Concordo