24.07.20

Sentir e saborear o amor de Deus, meu Fundamento

Sentir e saborear o amor de Deus, meu Fundamento

“Ele está presente no mais íntimo de cada coisa sem condicionar a autonomia da sua criatura, e isto dá lugar também à legítima autonomia das realidades terrenas. Esta presença divina, que garante a permanência e o desenvolvimento de cada ser, é a continuação da ação criadora”.

(Papa Francisco, Laudato Si’, n. 80)

Em preparação à festa de Santa Inácio, nós convidamos você a compartilhar um momento de oração conosco. Após o comentário inicial, seguem as propostas de oração. Siga os passos propostos com simplicidade e liberdade de espírito, adaptando cada um conforme a inspiração do Espírito Santo. Você pode seguir todas as propostas ou alguma delas. Antes de ler as orientações para a oração, pode ajudar a assistir ao vídeo de introdução que acompanha o nosso roteiro de oração.  

Procure sentir e saborear internamente as coisas. Santo Inácio nos ensina que a oração – o relacionamento com Deus – é mais um sabor do que um saber. Ou seja, trata-se de passar tempos privilegiados com o Senhor, fazendo a experiência de sentir os seus toques de amor em nossas vidas. Trata-se de saborear os encontros, conversando com o Senhor como um amigo conversa com outro amigo, de maneira gratuita. Trata-se de sentir-se movido amar e servir a partir da experiência do Amor.

O exercício de oração chamado Princípio e Fundamento é a porta de entrada dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Aqui, ele coloca, de início, as condições necessárias para fazê-los bem e focaliza a sua finalidade, dando o tom e o estilo de todo o resto do processo dos Exercícios, para que a pessoa saiba para onde vai e se determine a chegar lá.

O Princípio e Fundamento abre os Exercícios não somente no sentido de dar-lhes um começo, mas traçando o esquema do que vai ser toda a experiência: um olhar ao sentido da vida diante de Deus e a intenção de não ser surdo e responder sem reservas ao chamado que ele nos faz para amar e servir.  

As primeiras palavras do texto são “o ser humano”. Não é “o ser humano” no sentido abstrato, mas todo homem e toda mulher e tudo o que há em cada homem e em cada mulher. É o homem, a mulher, como é de fato: imagem e semelhança de Deus, pecador amado e redimido por Cristo, com suas qualidades, dons e limitações reais, com sua personalidade única, vivendo em um momento histórico determinado, inserido em uma cultura e em uma sociedade concretas e cheio de criatividade e possibilidades de fazer o bem. 

Olhando para as palavras do título – Princípio e Fundamento – e lançando um olhar de fé sobre a nossa existência, podemos concluir, de início, que o Princípio que dá Fundamento sólido às nossas vidas, à vida de cada homem e mulher em concreto, só pode ser um: o Amor de Deus

É fundamental – fundamento – a experiência de que Deus nos ama e nos ama primeiro, antes de qualquer coisa que possamos fazer ou de qualquer adesão que possamos dar a este amor: NISTO CONSISTE O AMOR: NÃO FOMOS NÓS QUE AMAMOS A DEUS, MAS ELE QUE NOS AMOU (1Jo 4,19). O Amor de Deus, o Deus Amor, é o nosso fundamento.

Esse deveria ser o centro de nossa experiência de fé: “Conhecemos o Amor e nele cremos” (1Jo 4,16), nele encontramos e experimentamos o fundamento que dá solidez e sentido à nossa vida. Mas é surpreendente constatar que uma das maiores dificuldades que encontramos é a experiência desta verdade: de que Deus me ama, sem condições, independente de minhas limitações, pecados, erros do passado, talentos, virtudes, realizações, cargos posição social…

Muita gente vive angustiada, triste, em um cotidiano monótono, sem sabor ou criatividade e sem experimentar a beleza de sua fé, porque carrega uma falsa noção de Deus: um Deus irado, um juiz, que vigia as pessoas e está pronto a dominar e punir; um Deus da lei, interessado mais em rituais e cumprimento de preceitos, sacrifícios e purificações; um Deus distante da condição humana e alheio ao sofrimento das pessoas.

Por isso, precisamos resgatar a beleza de nossa fé, fazendo a experiência deste amor primeiro e incondicional; precisamos restabelecer a ordem revelada pela palavra de Deus, situando o dom antes do mandamento, e aprofundar a consciência de que Deus nos cria por amor e nos ama como somos e não como cada um de nós acha que deveria ser, aprendendo assim a aceitar o fato de sermos aceitos.

Deixar-me amar por Deus: aí está o mais importante da vida espiritual. A experiência desse amor é o FUNDAMENTO de nossa experiência de fé, de oração, de crescimento na relação pessoal com Deus e com os irmãos e irmãs. Se não há amor, não há uma autêntica, profunda e livre relação pessoal.

Convido você a dedicar um bom tempo de oração para olhar para sua história, para sua vida, para a imagem de Deus que traz em seu coração e pedir a graça de reconhecer cada vez mais profundamente que Deus é Amor, pois aqui está a base sólida e o fundamento que sustenta toda a sua experiência e fé e de vida.  

Orientações para a oração

“Conhecemos o Amor e nele cremos” (1Jo,4,16). Sou homem, mulher, que tem a convicção de que Deus ama quem eu sou e não quem eu acho que deveria ser? Na minha oração, vou fazer uma releitura de minha vida e de minha relação com Deus.

Faço uma consideração sobre minha vida e história e procuro sentir e saborear internamente as coisas, sentir e saborear internamente a realidade do Amor: eu vim do amor e caminho para a plenitude do amor ao longo de minha marcha através da vida, mas muitas vezes me desgasto e perco o contato mais profundo com o Amor, minha origem, fundamento e fim. À luz da fé, recordo e saboreio onde tenho visto e experimentado a presença de Deus Amor na minha vida. Faço memória agradecida destas experiências e deixo-me envolver pelo Amor.

Peço o que quero e desejo, pois tudo é graça a ser recebida. Aqui pedirei a graça de compreender existencialmente, no coração, que O AMOR É O FUNDAMENTO DE MINHA VIDA e experimentar a alegria de viver esta verdade.

Colóquio: Santo Inácio, em vários momentos dos Exercícios, pede que façamos um colóquio, falando com o Senhor como um amigo fala com outro amigo. Durante a oração posso dirigir-me assim ao Senhor, por vezes expressando o que sinto, outras perguntando, agradecendo, pedindo esclarecimento, silenciando-me para ouvir o que ele diz, silenciando-me para sentir e saborear sua presença amorosa

Termino sempre agradecendo pelo que foi vivido na oração e rezando um Pai Nosso.

Escolho um dos textos para um tempo de oração. Depois posso fazer outros momentos com cada um dos textos. O importante é sentir e saborear internamente as coisas.

  1. Is 49,14-16. Leio pausadamente… Coloco meu nome no texto… Entre cada versículo, converso com o Senhor, peço a graça de experimentar o amor de Deus… Deixo que o Amor cure aquilo que me afasta do Amor.
  2. Sl 22 (23). Como ele é meu Pastor, meu Fundamento? Como ele me conduz? Como ele cuida de mim? Como ele dá solidez à minha vida? Como ele age? Como ele ama? Como ele me ama?
  3. Sl 136 (135). Um grande hino em forma de ladainha, com o povo respondendo às diversas invocações. O salmista faz uma bela síntese da história, contemplando e aclamando tudo à luz do amor de Deus. O Salmo permanece aberto a novas invocações, pois o amor de Deus é eterno. Considero minha história de Salvação. Escrevo minha continuidade ao Salmo 136, destacando os pontos marcantes de minha história de amor de Deus.
  4. Rm 8,28-39. Experimento e saboreio o Amor Fiel: nada pode separar-me do Amor, ninguém o pode, nem mesmo as barreiras que eu mesmo coloco. Considero como o Amor Fiel permeia cada segundo de minha vida. Faço memória agradecida da presença do Amor Fiel em minha vida.

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