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19.11.25

CONSCIÊNCIA NEGRA – SER ANTIRRACISTA TODO DIA

CONSCIÊNCIA NEGRA – SER ANTIRRACISTA TODO DIA

Em celebração ao Dia da Consciência Negra, a ser reverenciado nesta quinta-feira (20), o Colégio Antônio Vieira volta a destacar a importância de a sociedade buscar, de fato, ser antirracista no dia a dia, todos os dias. Por meio de ações pedagógicas, além de outras iniciativas do Comitê para uma Educação Étnico-racial e do Núcleo Estudantil de Estudos Interdisciplinares sobre Minorias Sociais (Neims), o colégio é hoje uma referência ao buscar promover uma educação antirracista. Confira mais, conferindo a íntegra da matéria publicada na edição 2025 da revista VIEIRA+!

Justiça Social
SER ANTIRRACISTA NO DIA A DIA: DEVER DE TODOS

Família e escola podem fazer diferença no combate ao racismo estrutural. Mais do que reconhecer o racismo, é preciso adotar novas posturas no cotidiano

Por Flavia Vasconcelos

A filósofa estadunidense Angela Davis, em seu livro “Mulheres, raça e classe”, publicado em 1981, defende, entre outros posicionamentos, que não concordar com o racismo não é o suficiente para combatê-lo. Para Davis, esta luta exige ações coletivas capazes de transformar as estruturas sociais que fomentam o preconceito racial.

A definição de antirracismo, termo cada vez mais evidente na sociedade, dialoga diretamente com o pensamento de Davis, quando ela nos provoca a desafiar a neutralidade e partir para o enfrentamento diário. Mas como, de fato, incluir o combate contra a desigualdade racial na nossa vida, no nosso dia a dia?

Para o professor de História e articulador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Minorias Sociais (Neims) do Colégio Antônio Vieira, Jacson Paim, “ser antirracista é ter coragem de corrigir falas, questionar comportamentos, rever práticas – inclusive as nossas – e apoiar mudanças que promovam a igualdade racial de verdade, lutando por reparações históricas de combate ao racismo estrutural ainda tão presente”, declarou ele, que também coordena o Comitê para Educação Étnico-racial do Vieira. 

FAMÍLIA COMO AGENTE FORMADOR

Segundo Paim, a família é o primeiro espaço de socialização em que deve ser estimulado o respeito à diversidade. “As crianças absorvem muito do que vivem em casa. Então, atitudes simples fazem uma grande diferença: escolher livros e desenhos com personagens negros e indígenas, elogiar a beleza dos cabelos crespos e da pele retinta, conversar abertamente sobre racismo, combater estereótipos e, principalmente, ouvir e aprender sobre o tema”, explica o professor.

Aos sete anos, em 2020, período em que morou com a sua família em Los Angeles, nos Estados Unidos, o aluno do Colégio Antônio Vieira Igor Sampaio, hoje com 12, teve um canal no YouTube, o “English children for children” (Crianças para crianças). No canal, ele falava sobre temas ligados à negritude, como o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), movimento internacional que, na época, protestava contra o assassinato de George Floyd, morto ao ser sufocado sob o joelho de um ex-policial branco, caso que ganhou repercussão mundial.

Essas experiências foram essenciais para que Igor, que é negro, pudesse tornar-se uma referência para os colegas. “Quando eu voltei dos Estados Unidos, percebi um uso de palavras que me incomodou. Por exemplo, muitos amigos ainda se referiam ao bege (lápis de cor) como cor de pele”, contou o estudante. De acordo com o aluno, a partir desse questionamento, a professora o convidou para explicar para os colegas os efeitos do uso de termos como esse na sociedade e como algumas expressões revelam o racismo estrutural, a ser combatido no dia a dia.

Segundo a professora universitária Maria Carolina Sampaio, mãe de Igor, ele e o irmão, Cauã, 10, tiveram acesso às discussões raciais desde cedo. “A primeira coisa que a gente trabalhava com eles quando eram mais novos era o autorretrato. Também sempre lia para eles livros infantis com essa temática e apresentava desenhos com super-herói preto. Ressaltamos também a questão da referência familiar, é muito importante eles entenderem a história de vida dos avós, dos tios”, disse Maria Carolina.

O PAPEL DA ESCOLA

Segundo o educador Sérgio Silveira, diretor-geral do Colégio Antônio Vieira, a educação antirracista vai além da implementação de um currículo inclusivo. “Não se trata apenas de cumprir a legislação vigente, como as leis 10.639 e 11.645, que determinam a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena na Educação Básica, mas de assumir um posicionamento em favor do respeito à dignidade de cada ser humano, que reconhece e promove uma cultura de paz, cuidado e empatia”, afirma o professor, que também é psicoterapeuta.

Para o Prof. Sérgio Silveira, as gerações atuais estão demonstrando crescente conscientização e engajamento na luta contra o racismo. De acordo com o diretor, isso se deve não só ao aumento da inclusão desses temas nos currículos escolares e universitários, mas também à realização de eventos globais, como o Fórum Global contra Racismo e Discriminação, da Unesco, e o Fórum Social Mundial, realizado pela última vez em Salvador, em 2018. O Vieira, que conta com um Comitê para a Educação Étnico-racial, tornou-se referência nas ações de implementação de uma educação antirracista, passando a integrar oficialmente o projeto pedagógico da escola. 

No colégio, a aluna Helena Barbosa, 16, atual diretora do Neims, núcleo que estuda minorias sociais, assumiu o cargo por considerar importante que os próprios alunos cultivem princípios como o respeito e a ética. De acordo com a aluna, o fato de ser uma jovem branca nunca foi impeditivo para que ela se interessasse e contribuísse com a luta racial, até porque a ideia do Neims é justamente envolver a todos, negros e brancos, nas discussões sobre novas posturas para combater o racismo no dia a dia. “Eu, por ser uma pessoa branca, tenho a noção de que não tenho lugar de fala em muitos assuntos, mas sei que é importantíssimo estudar e entender as problemáticas, fazendo sempre o possível para manter a justiça como prioridade”, diz Helena. 

O aluno Aloisio Silva Neto, 10, e sua melhor amiga, Amanda Ribeiro, 10, comprovam, no dia a dia, o quanto é importante poder estudar em um colégio que busca promover uma educação antirracista. Ele é negro, ela é branca e, juntos, apoiam ações realizadas contra o racismo e o bullying. “Amanda é uma amiga muito consciente, e sempre mostramos o quanto a nossa amizade é ideal, livre do racismo”, conta o menino. “Entre nós, sempre tem muita alegria e respeito um pelo outro”, diz ela.

RACISMO ESTRUTURAL

De acordo com o fundador da Articulação Afro Brasil SJ e ativista do Movimento Negro Brasileiro e da Pastoral Afro-Brasileira, padre Clóvis Cabral SJ, o racismo é um mal estrutural arraigado no Brasil. Para o padre, a desigualdade racial no país vem sendo construída ao longo da história, com o aval de setores importantes da sociedade.

Em palestra para educadores do Vieira, padre Clóvis destacou as ações de reparação, reconciliação e promoção de justiça adotadas atualmente pela Igreja. “Estamos pedindo perdão, com ações articuladas em rede, colaborando com a Igreja e nos colocando ao lado dos mais pobres e das pessoas negras e indígenas, nesse movimento em que a Companhia de Jesus está sempre se reformulando, buscando a percepção do que é ser realmente cristão”, disse.

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Fotos: Secom/CAV

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