Vieira intensifica ações voltadas para a educação étnico-racial
Adesão ao Pacto Educativo Global estimula novos avanços, como a formação para educadores com especialistas em pedagogia antirracista

Uma educação que contribua para que crianças e jovens possam, desde cedo, identificar e combater o racismo estrutural, tão historicamente presente na sociedade. Este é um dos propósitos assumidos pelas instituições jesuítas de ensino no Brasil, sobretudo, após a adesão ao Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco. No documento, lançado no ano passado, o Papa convoca as pessoas, instituições e governos para priorizar uma educação humanista e solidária como meio de transformação social. É neste sentido que o Colégio Antônio Vieira vem intensificando as ações em prol de uma educação antirracista, inclusive promovendo uma formação especial para os educadores da escola.
“Educar para as relações étnico-raciais é um dos caminhos para combater o racismo e a discriminação racial presentes na sociedade e, consequentemente, na educação infantil. Para tanto, é necessário que a história seja contada a partir de várias perspectivas, dando visibilidade às diferentes culturas no universo escolar”, destaca, em um de seus artigos acadêmicos*, a professora Nanci Franco, que é pós-doutora em Sociologia da Educação. Coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista na temática antirracista na educação de crianças, ela conduziu a formação para a equipe do Vieira.
“É necessário que o trabalho em sala de aula passe por estratégias pedagógicas que, ao trabalhar a autoestima das crianças pequenas, fortaleça o seu processo de construção de identidade étnico-racial, propiciando relações sociais mais harmônicas entre os diferentes”, diz a professora Nanci, completando: “São estratégias simples que podem ser usadas no cotidiano da escola, construídas a partir dos conhecimentos prévios e dos interesses das crianças, levando em consideração as especificidades locais e com a utilização de recursos normalmente já existentes na própria escola. Aliado a isso existe a necessidade de parceria entre a escola e a família”.

A FORMAÇÃO
Em seis encontros semanais – realizados, virtualmente, em dois grupos, entre os dias 19 de julho e 11 de agosto –, a professora Nanci Franco ficou à frente da formação, voltada para professores, orientadores educacionais e colaboradores de áreas estratégicas do Ensino Fundamental do Vieira. Os encontros também contaram com importantes contribuições da coordenadora do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação de Salvador, professora Eliane Boa Morte, doutoranda em Educação. Mestre em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas, a professora Eliane é autora do livro “História e Cultura da África nos anos iniciais do ensino fundamental: os Adinkra”, publicado pela Artegraf, em 2017.
Conforme explica a psicopedagoga Camila Portugal, que integra a equipe de orientadores educacionais do Vieira (SOE) e coordena o Comitê para Educação Étnico-Racial e de Gênero do colégio, “a proposta de construção de um projeto específico, que contemple as pautas que emergem dos estudos e práticas em torno da temática da Educação Étnico-Racial e de Gênero, vem sendo desenvolvida na instituição também em consonância com o seu Projeto Político Pedagógico e com os documentos da Companhia de Jesus”, como frisa. “Preconizada na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a proposição antirracista no Vieira vem sendo trabalhada como parte de um diálogo dinâmico e vívido com as questões da educação na atualidade e com os seus sujeitos, dentro de uma sociedade global cujos fenômenos, cada vez mais, reverberam no ambiente escolar”, ressalta a coordenadora do Comitê, instituído, oficialmente, pelo colégio desde o ano passado.

Entre as ações já realizadas pelo Comitê para Educação Étnico-Racial do Vieira, destacam-se:
- Aquisição pela biblioteca de livros de autores negros que abordam a temática antirracista.
- Abertura do Treinamento “Estratégias de Abordagem na Cultura do Cuidado” – Capacitação voltada para as equipes de segurança patrimonial, tratando estratégias de abordagem a alunos, famílias e colaboradores, “no sentido de provocar reflexões acerca dos impactos de inferências pautadas em preconceitos que possam gerar desconfortos e desdobramentos indesejados para todos os envolvidos”, como citou.
- Reuniões mensais com a articulação da Província dos Jesuítas no Brasil em relação às questões étnico-raciais.
- Capacitação, dentro do Programa de Desenvolvimento de Gestores (PDG), abordando o tema “PDG 2021 – Uma jornada viva de renovação – Cultura e Identidade: como me reconheço através dos caminhos trilhados”, com participação de 44 gestores do colégio e analistas do Setor de Gestão de Pessoas.
- Preparação para a participação no Encontro Nacional da Articulação Relações Étnico Racial – Jesuítas Brasil, a ser realizado em outubro, com o objetivo de construir uma agenda antirracista única para as escolas e demais obras da Companhia de Jesus do Brasil.
Fotos: SOE/CAV, Smed/PMS e acervo pessoal.
*”Pesquisar e educar para as relações étnico-raciais na educação infantil: uma luta contra o ruído do silêncio”, com co-autoria do Prof. Fernando Ilídio da Silva Ferreira.
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