19.04.24

Livros de Krenak e jogos culturais marcam celebrações no Vieira pelo Dia dos Povos Indígenas

Jovens estudaram obra do primeiro indígena a fazer parte da Academia de Letras enquanto crianças tiveram aula especial até na Educação Física

Livros de Krenak e jogos culturais marcam celebrações no Vieira pelo Dia dos Povos Indígenas

Uma semana especial com aulas de Educação Física apenas com Jogos Indígenas marcou as celebrações no Colégio Antônio Vieira pelo Dia dos Povos Indígenas, comemorado nesta sexta-feira (19). Mas não só os jogos culturais, realizados desde o início da semana (fotos acima), chamam a atenção dos estudantes vieirenses para a temática indígena. Ao longo do ano letivo, as crianças e jovens têm acesso a livros, palestras e exposições sobre a cultura dos povos originários, além de estudarem a obra de autores, como Ailton Krenak, que neste mês de abril tomou posse na Academia Brasileira de Letras, como primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL (ao centro na foto), sendo considerado um dos mais influentes pensadores da atualidade, com obras traduzidas para mais de dez países . 

Na primeira unidade, os estudantes da 2ª série do Ensino Médio, por exemplo, tiveram aulas de Literatura, a partir do livro “A vida não é útil”, lançado em 2020. Na obra, o líder indígena da etnia krenaque – que é também ambientalista, filósofo, poeta, escritor e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – parte de reflexões provocadas pela pandemia de covid-19 “para apontar as tendências destrutivas da chamada ‘civilização’: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade”, como destaca a editora Companhia das Letras.

Ailton Krenak: filósofo e escritor

“Ailton Krenak é, hoje, um dos maiores pensadores para se interpretar o mundo contemporâneo, com proposições que revolucionam a imaginação e o que já está posto. Um dos aspectos relevantes da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que norteiam a nossa escolha de livros didáticos e paradidáticos, é a valorização da diversidade cultural brasileira, incluindo a cultura dos povos indígenas, possibilitando que o lugar de fala do indígena também seja resguardado. Além disso, a visão antropológica aberta de aprendizagem está prevista no Projeto Educativo Comum da Rede Jesuíta de Educação (RJE), compreendendo o currículo como um ethos”, diz o professor de Literatura, Paulo Reis. 

PEC E VESTIBULARES 

Prof. Paulo Reis adotou livro nas aulas

O professor ressalta como o estudo do livro de Krenak se alinha ao previsto pela RJE, integrada por 17 colégios e escolas no Brasil, entre os quais o Vieira. “Entre os paradigmas do PEC, encontra-se o da justiça socioambiental, da Ecologia Integral, introduzida pelo Papa Francisco, diante da compreensão de ‘Casa Comum’, em que as relações sociais e ambientais estão profundamente interligadas. Sem justiça socioambiental, diz o documento da Rede, não há justiça social. Esse último ponto é basilar na obra A vida não é útil, bem como de outras obras do mesmo autor, a exemplo de Ideias para adiar o fim do mundo. Não obstante toda a validação documental, se a visão sobre a literatura fosse reduzida apenas a uma perspectiva utilitarista, a escolha da obra também a contemplaria, visto que se trata de leitura obrigatória para alguns processos seletivos do país, com destaque para o vestibular da Universidade de Campinas, a Unicamp”, completou.

BIBLIOTECA

Algumas das principais obras de Krenak, assim como de outros autores indígenas ou que abordam a temática indígena, estão disponíveis para os estudantes vieirenses, de todas as faixas etárias, nas bibliotecas do Vieira. No Vieirinha, as crianças têm acesso a obras da Literatura Infantojuvenil que abordam as questões indígenas com muita ludicidade, sempre buscando valorizar a cultura, a força, a beleza, as percepções sobre o mundo e toda a importância dos povos originários. Durante esta semana, os livros ficaram em evidência nos mostruários das unidades.  

As temáticas indígena e da justiça socioambiental também foram trabalhadas com as crianças do 1º ano do Ensino Fundamental (EF), por meio do projeto pedagógico “O que herdamos da cultura indígena”.

Confira o vídeo!

JOGOS INDÍGENAS

Atividades esportivas que ainda são preservadas no cotidiano das aldeias. Com esta proposta, o Vieira busca, também por meio dos Jogos Indígenas, promover de forma lúdica um diálogo das crianças não-indígenas com a cultura dos povos originários, do jeito que elas mais gostam: a partir de brincadeiras e jogos, realizados nas aulas de Educação Física. Ao mesmo tempo, os alunos desenvolvem habilidades e competências, aprendendo, por exemplo, a lidar de forma construtiva com desafios, derrotas e conquistas, vivenciando a solidariedade, a cooperação e o respeito às diferenças. 

“Os Jogos Indígenas favorecem um diálogo com a identidade nacional brasileira. As crianças reinventam a própria realidade e aprendem a lidar com os desafios, experimentando a prática da solidariedade, da empatia e do respeito às diferenças, em um clima de grande celebração”, como frisa a professora Isabel Cezimbra, coordenadora do Departamento de Educação Física do Vieira.

Crianças participaram, durante a semana, da edição 2024 dos Jogos Indígenas do Vieirinha

SOBRE O DIA DOS POVOS INDÍGENAS

Antes batizado como Dia do Índio, o 19 de abril passou, desde o ano passado, a ser comemorado como  “Dia dos Povos Indígenas”. A mudança do título da data comemorativa foi oficializada em julho de 2022 com a aprovação da Lei 14.402/2022, de autoria da então deputada federal Joenia Wapichana, atual presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

A nomenclatura antiga era tida como preconceituosa e genérica, não considerando a diversidade dos povos aos quais se refere. “O objetivo foi atualizar o significado desta data e valorizar o coletivo e não apenas o indivíduo”, declarou Joenia à época. A nova lei revogou o Decreto-Lei 5.540, de 1943, do presidente Getúlio Vargas. A data de 19 de abril é dedicada a celebrar a cultura e herança indígena em todo o continente americano desde o 1º Congresso Indigenista Interamericano, que foi realizado no México em 1940.

Fotos: AFP, Funai e Secom/CAV.

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