Dom Murilo Krieger homenageia 470 anos da chegada dos jesuítas no Brasil
Leia a íntegra da homília feita pelo Arcebispo de Salvador no dia 30 de março, na Catedral Basílica
Catedral de Salvador – 30.03.2019
470 anos da Chegada da Companhia de Jesus no Brasil
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil
Leituras: Sábado da III Semana da Quaresma:
Os 6,1-6; Sl 50(51); Lc 18,99-14
Celebramos, nesta manhã, os 470 anos da chegada da Companhia de Jesus no Brasil. Dia 1º de fevereiro de 1549, partiram de Belém (hoje, famoso bairro de Lisboa), em direção de Salvador, três naus: Conceição, Salvador e Ajuda, além de outras embarcações. Num deles vinham os primeiros Jesuítas. Chegaram em Salvador – que ainda não existia como cidade, mas que já tinha o nome – oito semanas depois, isto é, no dia 29 de março de 1549. O Padre Manoel da Nóbrega, que era o responsável por aquele grupo, assim escreveu a respeito da viagem: “Chegamos mais sãos do que partimos… Com isso, bem mostrava Deus ser sua a obra que agora se principiava”.
No dia 31 de março de 1549, que era um domingo – e, curiosamente, como amanhã: 4º domingo da Quaresma -, Pe. Manoel da Nóbrega celebrou, diante de um grande cruzeiro, erguido de propósito, a 1ª Missa dos Jesuítas no Brasil.
O que trouxe a Companhia de Jesus para estas terras distantes? O que os levou a deixar a segurança da Europa, a atravessar mares desconhecidos para enfrentar um mundo do qual pouco ou nada sabiam? A palavra de Deus deste sábado da 3ª Semana da Quaresma nos dá uma resposta.
Os Jesuítas queriam (e querem) viver para Deus, para a sua maior glória. Mas não se contentam com isso. Nóbrega e seus companheiros queriam também levar outros a fazerem o mesmo, isto é, a voltarem-se para Deus, na linha do que propunha o profeta Oseias. Esse profeta convidava sua comunidade a voltar para o Senhor. “Voltar” significa inverter a rota para retomar o caminho abandonado, o autêntico, que conduz a uma relação verdadeira e leal com Deus, visto como o amigo. E aos que temiam o modo como, por vezes, Deus tratava seu povo, o profeta lembrava: “Ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos”. A esse Deus não agradam os sacrifícios e holocaustos, pois Ele quer amor e que se procure conhecê-lo. Oseias adverte: “É preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor”. Pascal colocará na boca de Cristo uma observação nessa linha: “Tu não me procurarias se já não me tivésseis encontrado”
A parábola de Jesus, no Evangelho, vem nos lembrar a denúncia feita por Jesus contra aqueles que colocam sua confiança em si mesmos e não em Deus, desprezando os outros. A oração do fariseu é a de um fiel satisfeito, que não exprime nenhuma expectativa no tocando a Deus e coloca no centro sua pessoa: “Não sou como os outros homens… eu jejuo… eu pago o dízimo”. Ele dá graças não por aquilo que Deus fez por ele, mas por aquilo que ele faz para Deus.
A oração do publicano, pelo contrário, não tem nada para apresentar: é o simples pedido de um pecador consciente de sua indignidade. É um eco do que rezamos no Salmo: “Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia. Na imensidão de vosso amor, purificai-me”. Nas cartas que os Jesuítas escreveram a seus superiores naqueles primeiros tempos, fica muito claro o ideal que os trouxe aqui e que os levava a enfrentar toda sorte de dificuldades e problemas. Lembro uma dessas cartas, escrita em 1554 pelo Irmão José de Anchieta. (Ele havia chegado ao Brasil um ano antes, em 1553, com apenas 19 anos e seria ordenado somente uns 12 anos depois). Entre outras coisas, sua carta faz o seguinte relato: “Estando nosso padre [isto é: Pe. Manoel da Nóbrega] na Bahia de Todos os Santos, determinou Sua Alteza mandar doze homens pelo sertão a descobrir ouro, que diziam existir, para o que Governador Tomé de Souza pediu um padre, que fosse com eles em lugar de Cristo, a fim de não irem desamparados. […] Eles [isto é, os portugueses] vão buscar ouro, e ele [Pe. Navarro) vai buscar o tesouro de almas.”
As cartas dos primeiros Jesuítas testemunham o fogo que ardia em seus corações – fogo acendido pelo amor de Cristo. Esse fogo, que atravessou séculos, beneficiou nossa cidade de Salvador, a Bahia e o Brasil. É impossível escrever a História de nossa cidade, de nosso Estado e de nosso país em levar em conta a paixão que os Jesuítas tinham por Jesus e o desejo de que as almas de todos – portugueses e indígenas – fossem salvas.
Esta nossa celebração é, pois, um hino de louvor a Deus pela presença da Companhia de Jesus entre nós já há 470 anos. Mas é também um canto de gratidão à Companhia de Jesus por tudo o que fez e tem feito por esta Terra de Santa Cruz. Deus os abençoe! E que o exemplo de Nóbrega, de Anchieta e de tantos outros jesuítas sirva para nós de estímulo. Afinal, eles demonstraram entender o que o Senhor nos ensina através do profeta Oseias: “Quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos”.
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