Menu
Logo do site
Logo do site
26.06.25

ARTIGO – Ruah e Direitos: aprendendo com o projeto, rezando com a vida

Integrante da equipe de Formação Cristã do Vieira, William Justa faz reflexão, relacionando Espírito Santo, fé e projeto interdisciplinar para jovens estudantes

ARTIGO – Ruah e Direitos: aprendendo com o projeto, rezando com a vida

Por William Tavares Justa, pastoralista do Colégio Antônio Vieira

Ainda no início deste mês de junho, celebramos a unidade e a diversidade que a Festa de Pentecostes nos lembra, e, enquanto participava de reuniões no Colégio Antônio Vieira, em Salvador, ouvi meus colegas falando o quanto estão mergulhados no planejamento do projeto de série do 9º ano do Ensino Fundamental (EF): o Movimento Direitos Humanos (MDH). Um pensamento me atravessou de forma tão suave quanto profunda. Me veio à mente aquele trecho em que Jesus diz que veio para que todos tenham vida em plenitude. E essa plenitude, para mim, tem tudo a ver com os direitos humanos. Foi aí que, durante a oração, me peguei pedindo a graça de compreender melhor essa dimensão e, mais ainda, de abrir meu coração a ela.

Tenho por hábito buscar na Bíblia a fonte para entender a vida e as vezes pego carona na vida pra compreender a Bíblia. Como cristão, carrego essa convicção de que a igualdade entre as pessoas nasce da mesma ancestralidade, da mesma Pater-Maternidade criadora: fomos moldados pela mesma Mão, soprados pelo mesmo fôlego divino, a Ruah*. Por isso, não consigo olhar para ninguém sem enxergar um irmão ou irmã. Somos, todos, família. Filhos e filhas de um mesmo ventre celeste.

PROFUNDAMENTE BÍBLICO

Às vezes penso que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, lá de 1948, tem algo de profundamente bíblico. Porque ela fala da dignidade que não se pode tirar de ninguém, e isso, pra mim, é espiritualidade também. É missão de fé. Um chamado a viver o Evangelho nas pequenas e grandes relações do dia a dia.

O Cristianismo, quando vivido com sinceridade, é um campo fértil para o diálogo, para o respeito e para a luta pelos direitos fundamentais. Não é só doutrina, é prática. É corpo, é gesto, é denúncia. A Igreja, com documentos como o Gaudium et Spes, já apontava que promover os direitos humanos é também anunciar o Evangelho. E São João Paulo II chamava esses direitos de “rocha no caminho do progresso moral da humanidade”. Fico pensando como essas palavras ainda ecoam hoje, talvez mais do que nunca.

No fundo, a dignidade humana é a espinha dorsal da fé cristã. A Boa Nova que Jesus nos trouxe é também um modo de conviver e de não aceitar nenhuma forma de opressão ou negação da vida. Porque quando alguém tem seus direitos violados, é o próprio Evangelho que está sendo negado. Somos todos imagem de Deus. E como tal, merecemos respeito, cuidado e justiça.

Na leitura da Palavra de Deus, fica evidente que ninguém tem o direito de impedir outro de viver com dignidade – seja qual for sua cultura, fé, história ou sonho. É dessa fonte que nasce a minha compreensão dos direitos humanos: eles tocam o corpo, a mente, o espírito. E isso vale desde a infância até a velhice, nos mais diversos contextos.

A Bíblia nos ensina a amar. E amar é, sim, lutar para que o outro viva bem. Por isso, quando falamos de direitos à moradia, à educação, ao trabalho digno, à liberdade, estamos falando também de espiritualidade. E não há oração mais sincera do que levantar a voz contra as injustiças.

FÉ E AÇÃO

Com esse projeto, vou aprendendo com meus colegas e com a comunidade. E sigo rezando, tentando discernir na luz da Palavra como viver tudo isso com coerência. A oração que me acompanha ultimamente é simples, mas exige muito: “Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles” (Lc 6,31)… Aos poucos, a fé vai se tornando ação. E a Bíblia, companheira de caminhada.

É bonito perceber como a fé não nos afasta da realidade, mas nos mergulha ainda mais fundo nela. Quando me coloco diante da Palavra e da vida ao mesmo tempo, descubro que Deus não está só nos templos, mas também nas lutas diárias por justiça, nos encontros simples com o outro, na escuta atenta e na coragem de não se calar diante da dor alheia. O projeto que desenvolvemos no Colégio não é apenas uma tarefa ou uma avaliação: é uma chance concreta de transformar o que acreditamos em gestos reais, em posturas que respeitam e valorizam cada ser humano.

Sigo, então, com o coração inquieto, mas cheio de esperança. Que a Ruah Divina continue soprando em nós, abrindo nossos olhos e alargando nossas atitudes. Que o Evangelho não seja apenas lido, mas vivido. E que a escola, a oração, os projetos e os encontros sejam espaços sagrados onde a dignidade humana seja sempre reconhecida, defendida e celebrada como parte do Reino que Jesus já começou entre nós.

William Tavares, servo menor. Humano, demasiadamente humano. Pastoralista do Colégio Antônio Vieira.

*Ruah, que em hebraico significa “sopro” ou “espírito”, é um conceito que se relaciona com a força vital e a presença divina, e também pode ser associado aos direitos humanos, especialmente no contexto da dignidade humana e da busca por justiça social.

Imagens: Secom/CAV,
banco de imagens e Vatican News
.

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência em nossos sites e fornecer funcionalidade de redes sociais. Se desejar, você pode desabilitá-los nas configurações de seu navegador. Conheça nossa Política de Privacidade.

Concordo