Cuidado, solidariedade e esperança
Ir. Raimundo Barros fala do desafio de se reinventar da Companhia de Jesus durante a pandemia
A vida nos últimos meses ganhou contornos dramáticos, materializados em uma sentença: covid-19. A humanidade foi colhida para o meio de um turbilhão onde o desejo de globalização se concretizou de uma forma imprevista até pelos mais iluminados de plantão.
De uma hora para outra, todos os povos e nações foram conhecendo os efeitos dessa sentença invisível e foram sendo tomados pela insegurança, pela incerteza e pelo medo. A quem combater? Contra quem se deve lutar? Como se proteger? Como sair desta?
As perguntas foram surgindo em profusão e o mundo foi sendo tomado pela presença assustadora do inimigo invisível. Os avanços da tecnologia e da medicina não conseguiram explicar o que estava acontecendo; os mercados não entenderam que a pandemia iria colocar de pernas para o ar todas as bases dos sistemas econômicos; os futurólogos não conseguiram captar as vibrações que traziam para a vida das pessoas a vertigem de uma possível contaminação. E muitos continuaram a acreditar que tudo poderia ser simples e corriqueiro; que logo se voltaria ao ideal de viver em Pasárgada.
E o que fazer para sobreviver a tudo isso? Como as pessoas e as instituições estão trabalhando para viver, apesar desta tempestade com mar revolto? A resposta é uma construção diária, que muda numa velocidade impressionante e que ressignifica conceitos antes inquestionáveis, como o de urgência.
O corpo apostólico da Companhia de Jesus também está imerso nesta situação pandêmica e, mesmo tendo a esperança como força motriz, não foi uma ação tranquilizadora ter de suspender atividades, parar o atendimento presencial nos colégios, centros sociais, universidades, paróquias etc. Foi como se o fluxo sanguíneo tivesse de ser interrompido para poder garantir a vida, por mais paradoxal que isso possa parecer.
Entretanto, a suspensão de atividades presenciais nas obras da província mostrou uma capacidade criativa impressionante. Em pouco tempo, a mobilização das pessoas foi capaz de criar novas redes de cuidado, de compartilhamento e de trabalho comum.
O presencial não foi nem será substituído, mas já garantiu o aprendizado de que ele não é imprescindível. A comunicação ganhou nova força e as redes cresceram significativamente na relevância para garantir apoio para situações de pessoas e obras.
Com o passar dos dias, os fluxos de trabalhos foram encontrando conformidades: a maioria dos colaboradores está executando suas atividades em casa; as instituições de educação estão garantindo atividades remotas para os alunos; a assistência emergencial das obras voltadas para esse fim continuam, mesmo com algumas limitações; muitos serviços religiosos estão acontecendo por meio de redes sociais e outras tecnologias que ajudam a conectar pessoas.
Todavia, a velocidade com que tudo isso acontece vem gerando cansaço e movimentos de exaustão. Não é somente uma questão de pressa, mas também de viver na insegurança sobre a própria vida, o que exige muita atenção e cuidado.
Dar conta de tudo isso implica desgastes emocionais ainda impossíveis de mensurar, mas que já sinalizam a necessidade de criar estruturas de cuidado, de apoio e de trabalho em novas bases relacionais.
As obras já estão envolvidas no planejamento da retomada das atividades presenciais, embora ainda haja muita incerteza sobre quando isso será possível. O esforço de preparação para a nova normalidade parece ter dois sentidos: o primeiro é o de organização institucional para dar conta de novas demandas no desenho de espaços laborais, novos cuidados de higiene etc.; o segundo é o de buscar referencialidades concretas para um momento em que está tudo muito fluido. É como se tivéssemos de buscar terra firme, mesmo sabendo que a tempestade é longa e a linha do horizonte ainda não desponta com a vista de um porto seguro.
Se o grito é “Fique em casa!”, na certeza de que tudo “vai passar!”, o cuidado é a dimensão que deve ligar todas as decisões do corpo apostólico. É pelo cuidado que serão reconhecidas e legitimadas as ações. E é pelo mesmo cuidado que a proximidade com os mais vulneráveis deve carimbar a presença da Companhia de Jesus na luta e na garantia de esperança nas mais diferentes frentes de missão.
Fonte: Jesuítas Brasil
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